A ecografia com contraste (contrast enhanced ultrasound – CEUS) é cada vez mais utilizada em diversos contextos. Esta baseia-se num procedimento de imagem ecográfica que recorre à utilização de agentes de contraste.
A CEUS apresenta geralmente aplicação quando uma alteração é identificada em ecografia modo B, sendo uma extensão da avaliação ecográfica convencional (modo-B e doppler). As imagens obtidas devem então ser interpretadas no contexto clínico, e integradas na avaliação laboratorial e de outros exames de imagem.
A realização de CEUS requer a utilização de agente de contraste ecográfico, de equipamento com software dedicado, e também o conhecimento e treino do operador.
Agentes de contraste ecográfico: o que são?
Os agentes de contraste ecográficos são substâncias que aumentam o realce ecográfico. São constituídos por microbolhas gasosas, estabilizadas por um revestimento, de diâmetro ligeiramente inferior ao dos hematócitos. São agentes puramente intravasculares, e quando injetados via endovenosa durante um exame ecográfico vão aumentar o sinal do sangue.
Vários agentes estão aprovados em mais de 70 países do mundo, sendo que na Europa o único é o SonoVue® (Bracco). Este agente é composto por um gás de hexafluoreto de enxofre estabilizado por uma membrana de fosfolípidos. Em minutos após injeção o gás é eliminado por via respiratória e a camada externa é metabolizada por via hepática.
Os equipamentos ecográficos necessitam dispor de software com modo de imagem contraste-específico, que suprime os ecos do tecido em favor do das microbolhas, sem as destruir.
CEUS: utilizada com regularidade em que áreas?
A CEUS é rotineiramente usada na avaliação ecocardiográfica e apresenta muitas aplicações atualmente, geralmente como agente vascular após a injeção endovenosa para avaliação macrovascular, de grandes vasos, e microvascular de vários órgãos, como fígado, pâncreas ou mama. No entanto, pode também ser usado na avaliação intracavitária, sendo um exemplo clássico a instilação intravesical na deteção de refluxo vesico uretral nas crianças e adolescentes.
Na ecografia abdominal a utilização de CEUS apresenta indicações importantes, sendo a caracterização de lesões hepáticas focais (LHF) de grande relevo clínico e científico. Pode ser o exame de primeira linha, de realização imediata, quando detetada uma LHF de forma incidental em ecografia, ou de segunda linha quando TC e RMN inconclusivas. Tanto em fígado normal como no contexto de vigilância de doentes com elevado risco para hepatocarcinoma (HCC), ex. cirrose hepática, a CEUS permite uma rápida exclusão ou diagnóstico de malignidade, e a possibilidade de diagnóstico etiológico de algumas lesões. Apresenta, pelo seu carácter vascular dinâmico, critérios diagnósticos de HCC nos doentes de elevado risco, tem um papel na caracterização de trombose da veia porta (TVP), com diferenciação de TVP benigna de maligna, e permite orientação e monitorização de resposta imediata a tratamento de ablação local do HCC.
Que outras funções assume esta ecografia?
É também uma ferramenta útil no estudo da vascularização da parede intestinal, de relevo na doença de Crohn (DC). Neste contexto, permite avaliar a atividade inflamatória, podendo ser usada na monitorização do efeito do tratamento médico. Também, apresenta utilidade na caracterização de massas inflamatórias com elevada acuidade na deteção de abcessos, e na diferenciação das estenoses de natureza inflamatória ou fibroestenótica.
Como outras indicações no contexto da ecografia abdominal, podemos referir a avaliação no baço, nomeadamente no diagnóstico de enfarte esplénico, e não podemos esquecer a aplicação complementar da CEUS na ecoendoscopia digestiva, na distinção de adenocarcinoma pancreático ductal de tumor neuroendócrino e na suspeita de nódulo mural em lesões císticas pancreáticas.
Quais as limitações deste exame?
A CEUS apresenta a desvantagem de estar sujeita às mesmas limitações da ecografia de base, e não permitir a avaliação vascular de mais de uma lesão, nomeadamente exigindo TAC ou RMN complementar no estadiamento do HCC.
E quais as vantagens?
Apresenta, no entanto, algumas vantagens, como permitir uma avaliação em tempo-real; ter boa relação custo-benefício, ser facilmente repetível, isento de radiação ionizante; sem nefrotoxicidade e segura. Tem efeitos adversos muito baixos comparativamente a outros métodos de imagem, com muito baixo risco de reação alérgica severa (0.001%).
Assim, novas aplicações para a CEUS continuam em desenvolvimento em várias áreas diagnósticas e terapêuticas.