O cancro do pâncreas é uma doença relativamente pouco frequente, mas com uma taxa de mortalidade muito alta e que regista uma tendência para um número crescente de casos e de mortes em idades cada vez mais precoces. Na última década, assistiu-se a um aumento expressivo do número de casos de cancro do pâncreas em pessoas com idades entre os 30 e os 40 anos. Hoje, no Dia Mundial do Cancro do Pâncreas, é o momento indicado para falar sobre qual é, de facto, a função e a importância deste órgão para a nossa saúde.
O pâncreas é um pequeno órgão anexo ao tubo digestivo, que se encontra atrás do estômago, tem apenas um palmo de comprimento e pesa menos de 100 gramas. A sua posição anatómica dificulta o diagnóstico dos tumores e, ainda hoje, a sua avaliação por exames de imagem.
Só no século XIX é que foram assinaladas as funções deste órgão enquanto glândula digestiva, responsável pela produção e libertação para o intestino de suco pancreático, fundamental para a digestão, e também enquanto glândula endócrina, responsável pela produção e libertação para o sangue de várias hormonas vitais para o metabolismo dos açúcares, proteínas e gorduras. O pâncreas permite que decorra a normal digestão e absorção dos alimentos e é fundamental para o metabolismo e homeostasia, garantindo a produção de várias hormonas com funções vitais, como por exemplo, a insulina.
Cerca de 90% dos cancros do pâncreas iniciam-se nas células exócrinas que delimitam os canais pancreáticos. Este tipo de cancro denomina-se adenocarcinoma ductal, o principal tipo de cancro do pâncreas representando 75 a 90% dos casos.
Outro tipo de tumor, menos frequente, é o carcinoma neuro-endócrino que tem origem nas células endócrinas do pâncreas.
Outros tipos de cancros do pâncreas, como o sarcoma ou o linfoma, são muito raros.
Aproximadamente 60% dos cancros ocorrem na cabeça do pâncreas, perto do duodeno, 20% ocorrem no corpo e cauda do pâncreas, e os restantes são tumores difusos.
O cancro do pâncreas ocorre quando as células malignas se formam e se multiplicam no tecido pancreático. O tumor cresce de forma silenciosa e evolui quase sem sintomas, o que faz com que seja descoberto tarde demais. Quando começa a dar sintomas, significa que já envolve estruturas importantes do organismo e habitualmente já está num estádio muito avançado.
Como o carcinoma do pâncreas é habitualmente um tumor agressivo e é diagnosticado excessivamente tarde, quando na maioria dos casos já se encontra num estádio avançado, as terapêuticas disponíveis são pouco eficazes, o que faz com que a mortalidade por cancro do pâncreas seja quase igual à sua incidência.
A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia alerta para os vários fatores de risco da doença, tais como o tabaco, a obesidade, o consumo de álcool e a diabetes. Estes são os principais fatores de risco associados ao cancro do pâncreas e podem ser evitados, de forma a oferecer uma oportunidade para a prevenção da doença!
Dr. Ricardo Rio Tinto,
Presidente do Clube Português do Pâncreas da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia