A gravidez condiciona múltiplas alterações emocionais e físicas na mulher. Os sintomas gastrointestinais são dos mais comuns na gravidez, sendo habitualmente ligeiros e facilmente resolvidos pelos Obstetras. No entanto, há situações em que o Gastrenterologista tem um papel importante, nomeadamente quando os sintomas são graves e persistentes, ou nos casos de doenças crónicas, como por exemplo a doença de Crohn, a colite ulcerosa e as doenças hepáticas crónicas, que exigem um planeamento e vigilância específica, nomeadamente no eventual ajuste da medicação.
Os problemas gastrointestinais na gravidez afetam maioritariamente o esófago, estômago e intestino, mas podem incluir o fígado, vesícula biliar e pâncreas. Algumas das causas que podem estar na origem destes problemas são: alterações hormonais da gravidez, compressão de órgãos digestivos pelo útero grávido, obesidade, alterações na dieta, sedentarismo e ansiedade.
Os sintomas mais comuns são: náuseas e vómitos, “azia” secundária à doença de refluxo gastro-esofágico e obstipação (“prisão de ventre”), que pode estar associada a cólicas abdominais e patologia hemorroidária. As hemorroidas manifestam-se por perdas de sangue vivo pelo ânus, dor e prurido anal, sendo mais frequentes no 3º trimestre de gravidez e no período pós-parto. A gravidez está ainda associada a um maior risco de litíase biliar (formação de cálculos na vesícula e vias biliares) que, em alguns casos, pode condicionar a obstrução e infeção do canal biliar (com necessidade de intervenção por parte da Gastrenterologia), ou desencadear episódios de pancreatite aguda. Além das doenças hepáticas pré-existentes, podem desenvolver-se doenças do fígado específicas da gravidez (por exemplo: pré-eclâmpsia/eclâmpsia e síndroma de HELLP), que nos casos mais graves podem determinar a indução urgente do parto.
Felizmente, a maioria das situações podem ser resolvidas com alterações dietéticas e modificações no estilo de vida. O aumento do consumo de água e fibras, a diminuição da ingestão de açúcar, gorduras e alimentos processados, bem como refeições de menor volume e mais frequentes, podem ser suficientes para aliviar ou resolver muitos dos casos de azia, vómitos e obstipação. Adicionalmente, o exercício físico regular promove um melhor funcionamento gastrointestinal. Se os sintomas forem severos, persistentes ou refratários a estas medidas, a grávida deve consultar o seu Médico, que pode prescrever medicação segura e em doses adequadas.
Dr.ª Alexandra Fernandes,
Vogal da direção da SPG