O que é o Síndrome do intestino Irritável?
O Síndrome do Intestino Irritável é uma doença bastante prevalente na nossa população, chegando a atingir de cerca de 6% da população na Europa.
As queixas mais frequentes incluem dor abdominal, ou até mesmo desconforto associado a outros sintomas como diarreia e obstipação.
Conforme o predomínio das queixas, os doentes podem ser classificados como tendo SII do tipo diarreia, do tipo obstipação, ou do tipo Misto (neste caso se tiverem tanto diarreia como obstipação).
A verdade é que muitas pessoas que se queixam de dor abdominal ou alteração do trânsito intestinal, referem alívio das queixas após evacuarem.
Mas nem todas devem sofrer de SII. É necessário distinguir de outras doenças, nomeadamente doenças com pior prognóstico, em que uma intervenção precoce poderá fazer a diferença.
Quais são esses sinais de alarme?
São vários.
Por exemplo, perda de sangue nas fezes, perda de peso acentuada e anorexia.
Os doentes com idade para rastreio do cancro colorectal ou com história familiar devem ter particular atenção a estes sintomas.
Doentes com Síndrome do Intestino Irritável, normalmente, têm os seus sintomas no período diurno, ou seja, quando estão acordados. Por isso, quando um doente diz que acordou durante a noite, devido às suas queixas, deve ser pensado outro diagnóstico.
Também é verdade, que no Síndrome do Intestino Irritável as queixas devem-se manter durante meses e, portanto, este diagnóstico não deve ser equacionado quando os sintomas estão presentes apenas há uns dias, podendo tratar-se apenas de uma gastrenterite.
As pessoas com SII vivem com dor?
Sim, os sintomas estão presentes durante meses, mas não é necessário apresentá-los diariamente.
Há períodos em que o doente pode estar mais sintomático e, nestes períodos, a doença pode ter um grande impacto na qualidade de vida, interferindo com o seu bem-estar físico e psicológico e afetando todas as esferas da pessoa (nomeadamente ambiente familiar, profissional, lazer, capacidade de realizar desportos, entre outros).
Quais as causas para as pessoas terem o SII?
A fisiopatologia é ainda muito complexa e com várias variáveis que condicionam o aparecimento dos sintomas.
Pensa-se que seja uma combinação de vários fatores nomeadamente alteração da motilidade do tubo digestivo, hipersensibilidade, inflamação e alterações na microbiota. Um conceito unificador é que os sintomas derivam de uma desregulação do eixo cérebro-intestino, o que se reflete num aumento da perceção visceral.
Neste contexto, todas estas alterações levam à perceção da dor abdominal de modo diferente, de paciente para paciente.
E apesar de não haver causa conhecida, nesta etapa, após a confirmação do diagnóstico, pensa-se que existam alguns fatores que possam agravar a doença. Por exemplo, resposta ao stress ou até mesmo a alimentação.
Pensa-se, por exemplo, que alimentos fermentáveis como os alimentos ricos em FODMAPS poderão agravar esta condição.
E como devem ser tratados estes doentes?
A base do tratamento do SII envolve mudanças de estilo de vida e alterações dietéticas. A prática de exercício físico, bem como a evicção de certos alimentos desencadeantes, como por exemplo aqueles ricos em carboidratos fermentáveis, conhecidos como FODMAP, podem ajudar no alivio de sintomas.
Após as alterações referidas, existem medicamentos que podem ser utilizados consoantes os sintomas dos doentes.
Os medicamentos para o SII têm como alvo diferentes aspetos dos sintomas da doença.
Por exemplo, medicamentos antiespasmódicos, podem ajudar a reduzir a dor abdominal e as cólicas. Para doentes com SII com predominância de obstipação, podem ser prescritos laxantes ou medicamentos que estimulam os movimentos intestinais.
Por outro lado, para aqueles com SII com predominância de diarreia, medicamentos como a loperamida podem ajudar a desacelerar os movimentos intestinais e reduzir a diarreia.
Contudo é importante realçar que os doentes com SII beneficiam de uma abordagem multidisciplinar – É importante que os doentes tenham um plano de tratamento individualizado que atenda às suas necessidades específicas.
Muitas vezes, o tratamento passa pela avaliação não só do médico gastrenterologista, mas também de outros profissionais como por exemplo um nutricionista, psicólogo ou psiquiatra.
Por exemplo, doentes em que o fator desencadeante seja a alimentação beneficiam de um bom acompanhamento nutricional, pois terão um melhor controlo das queixas com uma dieta personalizada.
Assim, como doentes com ansiedade e depressão, em que os períodos de exacerbação coincidem com períodos de stress emocional, podem beneficiar de acompanhamento psicológico/psiquiátrico de forma regular.
Gerir o SII é uma jornada e, que com o apoio e os recursos certos, os indivíduos podem levar uma vida melhor, apesar dos desafios colocados por esta condição.